EDF LADO A LADO COM A EDM NA REPARAÇÃO DOS ESTRAGOS DO IDAE

Beira
Thu, 30/05/2019 - 05:00

Após a passagem do ciclone Idai, na zona centro do país, uma das organizações que se prontificou a prestar o seu apoio aos técnicos da EDM no terreno para a reposição da infra-estrutura e fornecimento de energia eléctrica à população foi a Fondation EDF (Electricité de France), uma entidade que apoia projectos humanitários e ajuda vítimas de catástrofes naturais.

A Fondation EDF, além de vários materiais que possibilitaram a religação de vários clientes na Beira, enviou dois quadros da Força de Intervenção Rápida de Electricidade (FIRE), Jean-Sylvain Hubert e Dominique Licata, que durante 10 dias estiveram lado a lado com técnicos da EDM, na Beira, a trabalhar no terreno e a trocar experiências e mais três dias em Maputo. Durante esse período, houve formação e treinamento dos técnicos da EDM, de acordo com as necessidades. Aqueles dois profissionais franceses, durante os 10 dias, acompanharam, observaram e ajudaram as equipes de Média e Baixa Tensão (MT e BT) nos trabalhos, sobretudo no que diz respeito à segurança e à performance.

Entre esses trabalhos incluí-se a participação nas reuniões de balanço diários com as equipas coordenadas pelo Delegado da Beira, Hélder Gimo, e pelo supervisor Manuel Hendres.

Constatações no terreno

Um dos aspectos que mereceu atenção nesse processo de trabalho foi o de segurança, mais concretamente no que se refere ao isolamento do equipamento. No terreno, constatou-se que apesar de na EDM haver técnicos competentes, com conhecimento do sector eléctrico, bem como da rede, registavam-se falhas em algumas etapas do trabalho o que colocava em risco a saúde do próprio trabalhador. A título de exemplo, notaram-se falhas na verificação de ausência de tensão, ligação à terra, delimitação da zona de trabalho, etc. Ficou igualmente assinalada a falta de equipamento adequado no campo, ou de verificação periódica dos equipamentos, falta de conhecimento por parte das equipas sobre o uso desses equipamentos e da avaliação de risco baseada na confiança.

Para a superação dessas deficiências, a equipa da Fondation EDF recomendou a distribuição dos equipamentos recém-chegados, sua demonstração e treinamentos no campo.

Para situações de trabalho em altura, sugeriu o uso de harness, ao invés de cinto, e duma corda mais comprida para dar a volta total ao poste. É preciso evitar contacto de pele com creosote, pelo que é preciso usar equipamento de mangas compridas e luvas adequadas; proporcionar coleiras para capacete; estudar a possibilidade de comprar modelos de escadas com estabilizadores e ainda desenvolver treinamentos sobre teoria e prática de esforços mecânicos nas redes.

Estas dicas surgem por se ter constado o uso de corda com uma volta só ao redor do poste. Notou-se ainda que alguns técnicos se expunham ao contacto com creosote e seus capacetes caiam durante os trabalhos. Verificou-se também que as escadas em uso não possuíam estabilizadores.

No que se refere ao material e especificações técnicas, foram dados indicações referentes aos postes. Durante os trabalhos, verificou-se a existência de três tipos de poste de madeira nessa fase de reposição: Média Tensão (MT) 12m, Baixa Tensão (BT) 9m, baixada 6m; ausência de cálculos de esforços mecânicos nos postes. Foi igualmente reportada a ausência de standard para definir a necessidade de espiar os postes (ou outro método de consolidação); pouca consideração do tipo de terreno na decisão do tipo de fundação dos postes e postes com tratamento creosote.

A recomendação para estas situações foi de que era preciso desenvolver uma competência de cálculos de esforços mecânicos nas redes aéreas de MT e BT, em conjunto com a área da manutenção; avaliar a possibilidade de diversificar a compra de postes de madeira/betão/metálicos de diferentes diâmetros, e tratamento sem creosote; estabelecer um standard na definição do tipo de postes e suas fundações, tomando em conta a natureza do terreno lamacento na Beira.

Relativamente aos Ligadores/Terminais, constatou-se que além de ligadores de BT na maioria de péssima qualidade e com range grande (demais), falhas na hora de apertar (por qualidade do ligador ou falta de equipamento adequado); ligadores de linha de MT sujeitos a avarias ao longo do tempo e falta de terminal de Cu. Nestes casos, as soluções passam por avaliar oportunidade de mudar de fornecedor de ligador de BT; avaliar possibilidade de comprar terminal de Cu; avaliar possibilidade de desenvolver o uso de ligador a sertir (tipo união) e o uso de ferramenta adequada para aperto.

Após os dias de trabalho, os dois especialistas, num documento produzido para o efeito, chamam atenção para a necessidade de, em período de calmaria, tomar-se medidas que possam favorecer a eficiência dos trabalhos durante o período que se segue ao evento. Entre as medidas a tomar, apontam para a pertinência de se avaliar os recursos disponíveis no nível nacional (ou internacional), passíveis de serem mobilizados quando necessário: Equipas, veículos, ferramentas, equipamentos de protecção individual, material, geradores, etc.

O documento alude ainda à relevância de se garantir uma visão clara das prioridades de realimentação na rede de distribuição, o que inclui a identificação antecipada de clientes estratégicos; linhas de média tensão estratégicas; Postos de Transformação estratégicos; saídas de Postos de Transformação estratégicas.

Para uma maior resistência, o documento recomenda o reforço da reconstrução da rede com soluções mais resilientes: troca e reforço de postes e pórticos, construção de rede subterrânea nos anéis estratégicos, elevação dos PT, utilização de equipamentos à prova de água, transformadores sem torneira par evitar roubo de óleo, etc.

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